sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Papo de academia #1 Estímulos



Você deve se perguntar: qual a melhor forma para se obter um resultado? Ou ainda – qual a forma correta de obter o melhor resultado? E se o resultado for a hipertrofia muscular?

A resposta correta: através de estímulos.

O que é um estímulo? Estamos aqui falando de estímulo muscular na atividade física intensa. Nada mais é do que uma quantidade de fatores aplicados que irá trazer reações como resposta. Um conjunto de estímulos: levantar pesos. Um conjunto de respostas: hipertrofiar.

Eu os classifico em três grupos: estímulo por cadência; por carga; e por número de repetições. Todo exercício realizado em uma academia contem sempre esses três grupos em proporções diferentes. Todos eles têm sua dificuldade máxima, ou seja, seu pico de intensidade, e, em contramão, sua dificuldade ou intensidade mínima. Quando mais difícil ou intenso maior o estímulo; quanto menor ou menos intenso menor o estímulo.

Como esses grupos são proporcionais, quanto mais de um menor dos outros dois. Muita carga significa poucas repetições e uma cadência menor; execuções mais lentas requerem cargas e número de repetições menores; e um alto número de repetições necessita de uma carga menor e de uma cadência mais rápida.

Primeiramente vamos analisá-los separadamente:

Cadência

A cadência é também conhecida como velocidade de execução de um movimento: quanto mais rápido você executa (menor cadência), mais fácil ele se torna. Exercícios com uma cadência maior, ou seja, um intervalo maior de execução será mais difícil, intenso e estimulante.

Trabalhar com cadência é trabalhar com respiração: exercícios rápidos (cadência menor) exigem muito da capacidade cardiorrespiratória sendo feitos em apnéia ou com respiração mais superficial; enquanto exercícios lentos (cadência maior) irão utilizar uma respiração mais firme e com um timming mais preciso.

Alguns exercícios não podem ter cadência muito alta pelo fato de que certas posturas do corpo não podem ficar a mercê de cargas em determinada incidência ou angulação por muito tempo. Alguns exemplos: agachamentos, stiffs, levantamento terra.

A cadência pode ainda ser controlada nas duas fases: na positiva, na negativa, ou em ambas. O pico do estímulo por cadência significa um tempo de execução maior em ambas as fases.

Aplicando o estímulo cadência em uma escala, temos:


Repare que o nível mínimo de estímulo por cadência é executar o exercício de forma rápida. Enquanto com uma cadência maior, o estímulo é aumentado bastante.

Carga

Talvez o conceito mais simples de se trabalhar: quanto maior a carga, maior o estímulo. Porém esse grupo de estímulos por carga é o mais conceitual. A musculação é baseada externamente somente nesse fator. Em linhas leigas, a carga é um estímulo mestre em comparação com os outros estímulos e suas variáveis. Culturalmente é o fator mais determinante para atrasos de hipertrofia: por ser o único estímulo a ter, como forma de avaliação, o aspecto visual da carga.  Afinal, você possivelmente já ouviu alguém dizer “pego 100 kg no Leg Press”, porém nunca ouviu: “faço 15 repetições no supino: sou um campeão!”.

Não precisaria de uma escala ilustrativa, mas vamos seguir o padrão:


    Óbvio demais não é? Pouca carga significa pouco estímulo. Porém se colocar uma cadência maior (maior duração do movimento) e um número de repetições maior, a intensidade irá aumentar, não por causa da carga, e sim pela intensidade dos estímulos dos outros dois grupos. Observou a interdependência?

      Repetições

      No mesmo conceito da carga, quanto maior o número de repetições, maior o estímulo. Repare que o estímulo está intimamente ligado ao conceito de trabalho muscular. Quanto mais se exige do músculo, seja por um trabalho mais lento; um peso maior; ou um número grande de repetições, a busca pela intensidade passa pelo conceito da obtenção de um estímulo mais eficiente.

      Vamos por o grupo de estímulos por repetições em uma escala? Segue:


      Veja que o conceito de repetições, assim como o de carga, passa uma forma mais explícita de estímulo - mais mensurável, já que o conceito de “cadência lenta” é mais subjetivo. Quanto menos repetições, menor o estímulo.

        Levando em conta de que o número de repetições é um tipo de estímulo e, se essa variável fosse isolada, quanto menos repetições: menos trabalho – menos estímulo.

Depois de listados os três grupos de estímulo, vamos analisar as suas respectivas interdependências na busca do estimulo máximo.

Falando de cadência, executar um exercício com uma valorização da fase positiva e negativa é extremamente estimulante. Em contrapartida a carga tem que ser diminuída bastante e o número de repetições também. Cabe frisar que não costumo citar em controle de cadência para exercícios de natureza unilateral. O intervalo de descanso entre um membro e o outro seria demais, já que na execução com cadência alta o tempo para a realização de um número de repetições vai ser consideravelmente alto. Esse aumento da fase de intervalo diminui a eficiência do estímulo.

Entende-se que o estímulo máximo com o fator carga seria o maior peso erguido, em uma cadência menor (bem rápido) e apenas uma repetição. Opa, para quem conhece musculação reconhece essa fórmula de estímulos através de carga como sendo 1RM – uma repetição máxima: que seria o maior peso que você consegue levantar para executar um exercício apenas por uma repetição. Cabe lembrar que quanto maior a carga aferida ao músculo mais rápido ele vai querer executar o trabalho. É por esse motivo que alguns exercícios com muita carga são feitos em uma velocidade acima da média (cadência baixa). Já com uma carga que busque um estímulo mínimo, entende-se que seja a carga mínima 30% da carga do 1RM, portanto requerendo um número maior de repetições e feito em uma velocidade mais branda de execução.



As repetições completam, em conjunto, os fatores que estimulam o crescimento muscular. Exercícios com poucas repetições em geral são executados com cargas mais elevadas e em uma cadência maior do que a média.

Existe, porém mais três fatores que implicam na qualidade desses estimulantes principais: digamos que podemos classificar como subgrupos ou fatores de assistência. Eles exercem influência direta ou indireta na busca da maior estimulação possível do músculo. São eles: amplitude do exercício; tempo de intervalo e número de séries. Esses três fatores moldam o desempenho da eficácia do estímulo muscular de forma direta (amplitude), da própria repetição do exercício (número de séries) e da eficiência do tempo de treino (intervalo). As questões sobre esses grupos? Fica para o próximo papo.

Então fica claro então o papel fundamental do estímulo eficiente na musculação. Foi visto aqui que o fator carga é apenas uma das ferramentas para a busca do aumento da hipertrofia muscular. Tendo posse desse conhecimento se abre um leque enorme com possibilidades de se estimular um grupo muscular diferente a fim de evitar uma saturação. Essa variabilidade garante resultados mais expressivos e, o melhor de tudo, sem seguir nenhuma receita de bolo. Observe o tipo de estímulo que o seu educador físico propôs para o seu treinamento – em geral, no próximo treino que ele adequar para você, veja que o tipo do treinamento está diferente: séries menores com mais pesos; alguns exercícios com execução mais lenta ou mais rápida, etc. Cabe até uma dica: se você não se sente preparado para aumentar a carga de um exercício, comece aumentando a intensidade pelos outros grupos como: diminuindo a cadência ou aumentando o número de repetições. 

Por fim, digo que não existe um grupo de estímulos melhor do que o outro – ou uma combinação dessas que seja mais ou menos satisfatória. Em termos gerais cada exercício tem sua própria tendência por um determinado estímulo mais incidente. Podemos fazer uma brincadeira: digamos que os três grupos de estímulos são totalizados por 30 pontos onde – 1 é o mínimo de estímulo possível e 28 é o máximo:

Você executará um exercício de levantamento básico a princípio:

Cadência: 5
Carga: 20
Repetições: 5

Digamos que seu treinador diga que quer que você faça 10 repetições em vez de 5. Vamos equilibrar diminuindo a carga? Ficaria assim:

Cadência: 5
Carga: 15
Repetições: 10

Agora ele quer que na sua última série você faça as 10 repetições com a carga anterior. Vamos aumentar a carga diminuindo a cadência (aumentando a velocidade de execução):

Cadência: 1
Carga: 20
Repetições: 9 + 1 (até a falha total)

Observe que tudo é equilibrado: lógico que com valores hipotéticos. Mas o conceito é esse. Avalie seus exercícios e os dos outros praticantes e tente visualizar qual o princípio estimulante que esta sendo focado.

Em muitas das postagens que virão a seguir, os conceitos de cadência, carga e repetições serão melhores vistos com exemplificações e resoluções de problemáticas.

        Tranquilo?